sábado, 18 de abril de 2015

TRATAMENTO DAS INCONTINÊNCIAS URINÁRIAS NO IDOSO


 Breve fisiologia da micção

A micção é uma função complexa do organismo que envolve vários mecanismos para ser realizada de forma adequada. O indivíduo deve treinar ao longo da vida para saber perceber o volume vesical, avaliar a possibilidade e necessidade do esvaziamento e permiti-lo no momento adequado.
A nível de sistema nervoso periférico, temos três inervações que controlam através de impulsos excitatórios e inibitórios essa função: parassimpático sacral (através do nervo pélvico), simpático torocolombar (através do nervo hipogástrico) e somático sacral (através do nervo pudendo).
No período de esvaziamento, temos o sistema nervoso parassimpático causando o relaxamento da musculatura periuretral e a contração do detrusor (músculo liso da parede da bexiga). Já durante o período de enchimento, temos o sistema nervoso simpático promovendo o contrário: contração da musculatura periuretral e relaxamento do detrusor.


Fisiopatologia da Incontinência Urinária

A incontinência urinária é caracterizada como um tipo de disfunção do trato urinário inferior, que pode ser definida como qualquer queixa de perda involuntária de urina. Os tipos de incontinência são:
            1. Incontinência urinária de esforço (IUE)
A IUE é caracterizada quando o indivíduo apresenta perda de urina durante esforços como espirro, tosse, gargalhada, força para carregar pesos. Sua causa pode está envolvida com alterações: nas estruturas do posicionamento do colo vesical (a uretra apresentando um posicionamento inadequado que não promove a oclusão uretral diante do aumento de pressão intra-abdominal); nos músculos do assoalho pélvico (MAP) (musculatura apresentando falhas na ativação das fibras rápidas e lentas e fraqueza); na vascularização da mucosa uretral (vascularização local, que deveria promover coaptação da mucosa uretral para impedir escapes de urina, apresentando alterações).
            2. Incontinência Urinária de Urgência (IUU)
A IUU é caracterizada por uma perda involuntária de urina após uma vontade iminente de urinar. Sua fisiopatologia normalmente está associada à síndrome da Bexiga Hiperativa (BH), que acomete predominantemente populações de idades avançadas. A BH é caracterizada pela contração involuntária do detrusor durante a fase de enchimento da bexiga.
            3. Incontinência Mista
Associação entre sintomatologia de esforço e de urgência.

Questões específicas relacionadas com sintomas urinários: Aumento da frequência urinária; sintomas de urgência urinária (vontade súbita e iminente de esvaziar a bexiga); noctúria (acordar durante o sono para ir ao banheiro urinar); urgeincontinência (episódios de vontade súbita e iminente de urinar acompanhados da perda de urina); enurese (perda urinária durante o sono); relacionados à IUE (perda urinária ao espirrar, ao tossir, durante exercídios, durante relação sexual, ao mudar de posição); relacionados à BH (perda urinária durante momentos de ansiedade, perda urinária manipulando água).

Incontinência Urinária e Envelhecimento

Com o passar da idade, existe o aumento da prevalência de perda urinária nos indivíduos. Existem alguns fatores relacionados a isso que serão descritos a seguir.
Com o envelhecimento, o indivíduo pode adquirir alterações que estão envolvidas e influenciam na continência urinária mesmo sem o comprometimento significativo do trato urinário inferior. Essas alterações estão envolvidas com: motivação, destreza manual, mobilidade, lucidez, existência de doenças associadas (diabetes mellitus e insuficiência cardíaca).
Já com relação às alterações diretamente relacionadas ao trato urinário inferior que o idoso pode apresentar, tem-se: diminuição da força de contração da musculatura detrusora, da capacidade vesical e da habilidade de adiar a micção; aumento de contrações involuntárias da musculatura vesical e do volume residual pós-miccional; alterações na pressão máxima de fechamento uretral, no comprimento da uretra e nas células dos músculos estriados do esfíncter.
Além dessas alterações referentes à senilidade, existe o aumento da incidência de determinadas doenças em indivíduos idosos que podem contribuir para o desenvolvimento de incontinência urinária. Podemos citar como exemplo a hiperplasia prostática benigna, onde se tem que 50% dos homens após os 50 anos podem apresentar, causando obstrução do fluxo urinário e alterações do trato urinário inferior, como uma instabilidade do músculo detrusor.
Com o envelhecimento, o indivíduo apresenta alterações hormonais, como o aumento da secreção de vasopressina e do hormônio natriurético. Isso pode acarretar num amento da frequência urinária durante o dia e noctúria. Além disso, existe o aumento da ocorrência de distúrbios do sono em pessoas com mais de 65 anos que às leva  a apresentar 1 a 2 episódios de noctúria mesmo sem haver doenças relacionadas. Dessa forma, esses indivíduos apresentam maior susceptibilidade à incontinência urinária.

Tratamento Fisioterapêutico na Incontinência Urinária

Seguem alguns recursos que podem ser utilizados no tratamento da incontinência urinária:

Cinesioterapia:
Envolve o treinamento da musculatura do assoalho pélvico (TMAP) que pode ser realizado através as seguintes etapas:
Estágio 1: Informação – Trata-se de educação em saúde, apresentando para o paciente temas diversos acerca da incontinência urinária e seu tratamento, além do conhecimento acerca da anatomia e função da musculatura do assoalho pélvico (MAP).
Estágio 2: Correção Postural –  O MAP está inserido no sacro e no cóccix e alterações musculoesqueléticas envolvidas com essa região podem fazer com que essa musculatura trabalhe em desvantagem biomecânica. Dessa forma, é necessário que o fisioterapeuta realize técnicas que promovam o reequilíbrio pélvico, sendo importante uma boa mobilidade da região e o olhar para encurtamentos musculares de musculatura abdominal, de coluna e de membros inferiores.
Estágio 3: Facilitação proprioceptiva e percepção corporal – Nessa fase, o paciente já deverá conhecer minimamente o que é, onde se localiza e como funciona o MAP para então o fisioterapeuta promover uma tomada de consciência corporal dessa região e das contrações da MAP por parte do paciente.
Estágio 4: Programas de fortalecimento – Nesse estágio, o fisioterapeuta promove os exercícios da MAP.
Estágio 5: Desenvolvimento da habilidade de contração do assoalho pélvico diante de aumento de pressão intra-abdominal – Após o fortalecimento da MAP, o paciente passa a treinar a manutenção da força de contração dessa musculatura para conter a urina durantes atividades que envolvam esforço como tossir e manobra de vassalva.

Biofeedback: Técnicas relacionadas à conscientização da musculatura do assoalho pélvico e de comoo realizar sua contração com força adequada. Temos como recurso o perineômetro, biofeedback eletromiográfico e a palpação vaginal.

Imagem de um perineômetro:

Cones vaginais

Eletroterapia
Neuroestimulação elétrica transcutânea

Responda nos comentários: Você faz parte de uma equipe de fisioterapeutas que realizam atividades em grupo de promoção de saúde em uma instituição de longa permanência de idosas. Sua equipe detecta que algumas idosas estão começando a apresentar sintomas de incontinência urinária. Que estratégias dentro das atividades de sua equipe você indicaria para prevenir a incontinência urinária na população dessa instituição?

Deixe, também, suas dúvidas e sugestões nos comentários.

REFERÊNCIAS:
MARQUES, A. A.; SILVA, M. P. P.; AMARAL, M. T. P. Tratado de fisioterapia em saúde da mulher. São Paulo: Roca, 2011.
REIS, R. B.; COLOGNA, A. J.; MARTINS, A. C. P.; PASCHOALIN, E. L.; JR, S. T.; SUAID, H. J. Incontinência urinária no idoso. Acta Cirúrgica Brasileira - Vol 18 (Supl 5) 2003.




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